data-filename="retriever" style="width: 100%;">Em 2012 o governador do Estado do Paraná, Beto Richa, manifestou publicamente seu desdém pela educação ao relacionar de maneira pejorativa estudo com insubordinação. Segundo ele, "uma pessoa com curso superior muitas vezes não aceita cumprir ordens de um superior".
Não foi, no entanto, uma manifestação destoante do pensamento de grande parte da elite governante brasileira. Beto Richa, na verdade, não sei se por ingenuidade ou por ousadia, foi apenas uma das primeiras autoridades políticas a dizer de maneira pública e explícita o que muitas outras pensam em silêncio, talvez por, na época, terem pudor suficiente para não falar em público.
A verdade é que, definitivamente, a educação não é bem vista no Brasil e não o é por uma questão relativamente simples: Ela nos faz refletir, não necessariamente contestar, mas refletir a respeito do que nos dizem os políticos, os pais, os padres, os pastores e os patrões. Neste contexto em que refletir é sinônimo de insubordinar-se, ensinar a refletir dá espaço à acusação de doutrinação. De uns tempos para cá, essa tendência antieducação, que até então era velada, ganhou força, perdeu vergonha e se materializou num movimento histérico e troglodita chamado Escola Sem Partido, cujos adeptos juram de pés juntos que professores de todo o Brasil estão mancomunados num plano malévolo para levar ideologias profanas a jovens mentes.
Essa recente hostilidade declarada aos professores e à educação formal não é nada além do acirramento de um desprezo que já vem de longa data. Desde 1980, já foram 16 movimentos grevistas de professores tentando chamar a atenção para um problema que ano após ano permanece sem solução. Foram 16 clamores desesperados, todos solenemente ignorados por uma população adestrada para pensar que a culpa da má qualidade da educação é justamente de quem se esforça diuturnamente para preservar o que ainda resta da educação.
Não é à toa que os professores estaduais recebem remuneração inferior à maioria dos servidores estaduais de nível médio. Não é à toa que os prédios das escolas estaduais, em regra, estão em condições piores do que os prédios de outros órgãos públicos. Não é à toa que as manifestações de professores são invariavelmente reprimidas pelo Batalhão de Choque, com violência superior, inclusive, à que se verifica em manifestações de outros grupos ou categorias.
A demolição da educação pressupõe a demolição da imagem dos professores perante a sociedade e, num país em que a credibilidade está diretamente ligada à capacidade de consumir/ostentar, a precarização econômica do professorado tem efeito simbólico significativo.
Como já disse Darcy Ribeiro, "a crise da educação no Brasil não é crise, é um projeto" e, cada vez mais, vem sendo exitoso esse projeto.
Apenas a saber: Beto Richa, apesar de cioso quanto à subordinação dos policiais, já foi preso preventivamente três vezes, uma delas em processo que investiga o desvio de R$ 20 milhões da educação. Pelo menos isso me serve de alento.